26 novembro 2008

Ensaio sobre a Cegueira



É difícil arrancar-me uma reacção a este filme, baseado na obra do nobel José Saramago. "Brutalíssimo" foi o primeiro adjectivo que me surgiu, não no sentido coloquial da palavra, mas sim no sentido literal, quase. Contudo, não pelo filme em si.

Deixando de parte a componente cinematográfica, cujas reacções dos críticos pude verificar que foram, de resto, agrestes para com a película do realizador Fernando Meirelles, sinto que é importante interpretar e ler além da superfície a coisa que o filme transporta. A profundidade não pode ser inteligida tendo em conta o filme per se. Ora isto para dizer que talvez Saramago tenha tido razão quando recusou por inúmeras vezes ceder os direitos de autor para a realização do filme, por entender que o cinema limita a imaginação. Quantas vezes não nos desiludimos ao ver o filme de um livro que havíamos lido antes?

Saramago afirmou que o filme é violento, pois até a própria vida é uma violência em si mesma. No entanto volto a dizer, não é pela violência, num sentido lato, que adjectivei o filme de "brutalíssimo". Porque em boa verdade, hoje em dia a violência física, emocional e social está, mais do que patente, está gratuita, para não dizer a um nível quase pornográfico. Embora pese a banalização com que imagens e símbolos violentos permeiam o nosso quotidiano, é principalmente a indiferença que lhes prestamos que tornam estas questões em lugares comuns esquecidos.

A palavra «ensaio» assenta que nem uma luva ao título da obra do nobel da literatura. De facto, trata-se de um ensaio que desmonta e disseca o que a civilização oculta sobre a própria e sobre nós enquanto indivíduos e não só. É um reportório deliciosamente constrangedor, e tento dizê-lo da forma menos sórdida possível, porque é deveras complicado elogiar uma análise ou reflexão sobre coisas tão repugnáveis, para nós seres humanos e não meros homo sapiens sapiens.

Quanto ao filme... eu percebo é de culinária e mesmo assim é muito pouco, pelo que posso dizer que deixou-me a pensar mais do que gostaria, mas como uma pitada de sal a mais na comida, isso pode ser bom, como pode ser mau, dependendo do paladar que a degusta.

(nota pessoal: tenho que começar a ver mais comédias, para rir mais vezes e com menos responsabilidade para com o meu umbigo, ora toma!)



2 comentários:

Silvia Fernandes disse...

ora bolas, quero ver este filme desde que saiu e ainda não pude ir ao cinema. e o teu texto ainda me dá mais vontade de o ir ver, e eu com um monte de coisas para fazer! :(

André disse...

Sílvia, fui ver o filme por acaso, nem tinha planeado. Segui um "impulso" e fui vê-lo :)