19 dezembro 2008

Um lugar no inferno



Plácido, de seu nome, anunciou à sua devota mãezinha, que acabava de comprar um lugar cativo no inferno.

Sem que os santos e anjos do altar do senhor padre da sua paróquia e da freguesia vizinha chegassem a tempo de prevenir uma eventual marcha lenta e sinuosa do INEM pelo vale acima, a senhora viu a luz do candeeiro da sala esfumar-se e voltar a focar enquanto o agente da funerária ali ao lado teve tempo de um rápido esfregar de mãos, de satisfação. Não se conteve. Exclamou com todas as forças que havia guardado nos serões a rezar. Como podia o seu santo, puro e sério filho ter arranjado um lugar no inferno ainda antes de tirar a carta de condução e ter idade para saber o que é a segurança social?

O filho, impávido e sereno, como o seu nome sugere, manteve-se no seu lugar, com ar natural, e informou a dona Rosário que o Benfica jogava amanhã, na Luz.



18 dezembro 2008

Duas notícias



Depois de um furo no pneu, Rómulo vira-se para o companheiro de viagem, enquanto este substituía a borracha inutilizada, e diz:

-- Arquibaldo, tenho duas notícias, uma boa e outra má.

-- Ah sinhe? -- limpando o suor que se deixava escorrer pelo nariz -- Quais sãonhe?

-- A má notícia: acho que o pneu não serve. A boa notícia: acabaram-se as más notícias.


13 dezembro 2008

Só podem estar a gozar comigo




Na página de economia do Metro, podemos ver que, apesar de tudo, não há razões para alarme porque há mais um português excêntrico. O balanço final irá comprovar que os portugueses, todos juntos, até estão a enriquecer. Suponho eu, dado o destaque que o Euromilhões recebe neste diário gratuito. Se cada um de nós ficar excêntrico todas as semanas, daqui a 200 mil anos já todos teremos tido oportunidade de ganhar o prémio. Não estou a brincar, façam as contas. Ah pois, 200 mil anos...

Agora como quem nada quer.. o anúncio está ali e não é por acaso, ou a coincidência é simplesmente peculiar?








Metro, edição de Lisboa (12/12/2008)




12 dezembro 2008

Curtas



A televisão não é programas com intervalos. É publicidade, com programas nos intervalos.


03 dezembro 2008

De quem é o problema?



Quando é que este vídeo vai integrar os seminários e acções de formação nas empresas públicas e função pública?


01 dezembro 2008

Das incúrias lusitanas



Hoje é feriado e a meteorologia não é nada abonatória de festejos. Contudo, provavelmente, foi num dia tão cinzento como hoje que há uns 368 anos atrás os portugueses restauraram a sua independência, revoltando-se contra o domínio filipino que havia existido já tempo demais.

Volvidos quase 900 anos de História enquanto nação, é engraçado notar que este povo humilde ainda recolhe respeito e admiração em muitos pontos do globo. Os japoneses não compreendiam como era possível o nosso vizinho não nos absorver definitivamente pura e simplesmente e mais incrédulos ficavam quando um tratado, uma assinatura num papel, era suficiente para fazer valer esta nossa existência desgovernada e que não se deixa governar. Ora será interessante dizer também que temos as fronteiras mais antigas (ou das mais antigas, não consegui verificar) da Europa. Para não falar da mais antiga aliança ainda em efeito, o tratado de Windsor com o Reino Unido.

Há quem chame à associação de Portugal com a Lusitânia e lusitanos uma "grande obra de engenharia histórica" dado que não se pode afirmar com precisão que somos os sucessores, nem os filhos daquela região pré-romana, que mais tarde se tornaria a província romana do mesmo nome. Mas há algo que não se pode negar, os traços e personalidade daquelas populações, que até foram descritos e registados na época da romanização da península ibérica, são identificáveis hoje em dia quanto mais será difícil negar que não nos corre, ainda que pouco, sangue luso nas veias. Temos mais que 900 anos ora pois...

Do mesmo modo... não, do mesmo modo não, mas talvez com as mesmas consequências, alguém matou Viriato e a Lusitânia "passou à História", e também alguém matou Portugal. E um dia hei-de escrever um livro sobre isso, e não terá nenhum capítulo dedicado à crise económica actual, assunto demasiadamente banal, como a peste a negra entenda-se.

E agora lembrei-me que este post era só para perguntar se alguém sabia que hoje era o dia da Restauração da Independência nacional. Hmm? Alguém? Olhem que os catalães, os galegos e os bascos invejam-nos por isto.



29 novembro 2008

Morangos com Açúcar



Sexta-feira à noite, uma infinidade de hipóteses, possibilidades de algo interessante, produtivo(?), divertido e estimulante para fazer. Assim como umas tantas necessidades para resolver antes. Mas invariavelmente lá estão os meus colegas, a ver a telenovela intitulada de fruta adocicada.

Alguém compreende este meu desespero? (Aqueles marmanjos citados, escusam responder)

Ah mas depois não é que surge um corpo mais desnudo no ecrã da televisão? Pronto, já sei que não adianta discutir.


28 novembro 2008

Uma curva que não lembra ao diabo



E (eu) descobri que uma curva, ou melhor, o conjunto de duas, podem ser ortogonais. Claro, dependendo do ponto de vista e, sobretudo, de abstracção. Aula de Laboratório de Arquitectura III



27 novembro 2008

E foi por isso



Certo dia, Matisse disse a seus alunos para cortarem a língua, se quisessem pintar.

Como Van Gogh não queria ouvir isso, cortou a orelha.


26 novembro 2008

Ensaio sobre a Cegueira



É difícil arrancar-me uma reacção a este filme, baseado na obra do nobel José Saramago. "Brutalíssimo" foi o primeiro adjectivo que me surgiu, não no sentido coloquial da palavra, mas sim no sentido literal, quase. Contudo, não pelo filme em si.

Deixando de parte a componente cinematográfica, cujas reacções dos críticos pude verificar que foram, de resto, agrestes para com a película do realizador Fernando Meirelles, sinto que é importante interpretar e ler além da superfície a coisa que o filme transporta. A profundidade não pode ser inteligida tendo em conta o filme per se. Ora isto para dizer que talvez Saramago tenha tido razão quando recusou por inúmeras vezes ceder os direitos de autor para a realização do filme, por entender que o cinema limita a imaginação. Quantas vezes não nos desiludimos ao ver o filme de um livro que havíamos lido antes?

Saramago afirmou que o filme é violento, pois até a própria vida é uma violência em si mesma. No entanto volto a dizer, não é pela violência, num sentido lato, que adjectivei o filme de "brutalíssimo". Porque em boa verdade, hoje em dia a violência física, emocional e social está, mais do que patente, está gratuita, para não dizer a um nível quase pornográfico. Embora pese a banalização com que imagens e símbolos violentos permeiam o nosso quotidiano, é principalmente a indiferença que lhes prestamos que tornam estas questões em lugares comuns esquecidos.

A palavra «ensaio» assenta que nem uma luva ao título da obra do nobel da literatura. De facto, trata-se de um ensaio que desmonta e disseca o que a civilização oculta sobre a própria e sobre nós enquanto indivíduos e não só. É um reportório deliciosamente constrangedor, e tento dizê-lo da forma menos sórdida possível, porque é deveras complicado elogiar uma análise ou reflexão sobre coisas tão repugnáveis, para nós seres humanos e não meros homo sapiens sapiens.

Quanto ao filme... eu percebo é de culinária e mesmo assim é muito pouco, pelo que posso dizer que deixou-me a pensar mais do que gostaria, mas como uma pitada de sal a mais na comida, isso pode ser bom, como pode ser mau, dependendo do paladar que a degusta.

(nota pessoal: tenho que começar a ver mais comédias, para rir mais vezes e com menos responsabilidade para com o meu umbigo, ora toma!)



19 novembro 2008

Porreiro, tia Manela


Elaborado a partir da imagem vista aqui.


A polémica! A polémica chegou!

Só para me juntar à polémica, claro.



18 novembro 2008

Quando



Quando perdes-te da realidade, quando já não distingues os teus pés do chão que pisas, é quando duvidas da dor que deveras sentiste, quando tocaste a chama férrea, quando ainda assim não acreditavas que não houvesse cicatriz remanescente de quando te atreveste a questionar pela primeira vez quando.



17 novembro 2008

Encher chouriços



Este post é só mesmo para «encher chouriços».

(ainda pensei meter aqui a imagem de uns chouriços, mas depois lembrei-me... whatever.)


10 novembro 2008

Sobre o grau de fofura, ou fofice, conforme o autor



Tornamo-nos cotas quando começamos a achar fofinhas e queridas as crianças, ai tão lindas que elas são... mas continuamos suficientemente jovens enquanto acharmos insuportáveis os berros estridentes daqueles pirralhos, porra!


09 novembro 2008

O delírio consciente



É um frenesim que despoletas no seio da alma. Sem medo na presença, conquanto o transe que provocas, redundantemente hipnótico no vazio que haja sobre ti, sejas um tormento. É o tom da fronteira, a muralha entre o tudo e o nada, ao som da incerteza que gera o nervoso que há em mim, que é o logos desta estupidez tão razoável. As dúvidas que despertas, as questões que tão maliciosamente amordaças, são o alimento e o veneno sagaz da cegueira que lanças. Apaziguando a entropia do espírito, não me peças para explicar isto, ok?



06 novembro 2008

A pedido de várias famílias



Aqui vai, um post sobre o homem do momento, o momento histórico para a humanidade, etc. etc. com o qual este blogue simpatiza e está solidário, mas entende ser demasiado sério para aqui ser tratado. Assim sendo, isto é o que se pode dizer sobre o senador do Illinois recentemente eleito 44.º presidente dos Estados Unidos da América: Obama é fixe.


05 novembro 2008

25 outubro 2008

Coisas do 25 de Abril



Entre outras coisas, isto não seria permitido no Estado Novo. Ainda bem que o regime morreu. Palmas!


24 outubro 2008

Desabafo



Hoje fumei um cigarro de chocolate. Sim, tabaco. Guloseimas não, que isso faz mal à saúde e aos dentes.

E depois tropecei nisto. Não sei porquê, mas fico feliz por as coisas terem acontecido por esta ordem.

Devia haver censura a sério no Youtube. Melhor, deviam encerrar o Youtube, mas só depois de ver todos os vídeos dos Monty Python. Ha ha.




P.S.: Já vi os vídeos sobre tupperwares, com a Alexandra Lencastre.


21 outubro 2008

Uma questão de princípio



Enquanto conversava com uns colegas sobre a teoria do utilitarismo de Hume, Teotónio -- o totó -- foi abordado pela miúda gira do laboratório. Madalena aproximou-se com aquele ritmo harmónico que lhe é característico e que deixa qualquer átomo de hidrogénio em puro estado de plasma. Sussurou-lhe ao ouvido uma proposta irrecusável, mas eis que:

-- O quê?! Ir ao Bairro Alto?! Estais doida?

-- Então... porque não? Íamos lá beber um copo e tal...

-- Mas eu não bebo! É uma questão de princípio.

-- Pronto... mas podias fazer-me companhia, íamos a um bar e assim...

-- Mas eu não gosto do Bairro.

-- Porquê?...

-- Porque cheira a xixi!

-- Mas se bebesses, já não cheiravas o xixi!


20 outubro 2008

19 outubro 2008

Ensinamentos da semana nº 42



Segundo consta, "não devemos dizer a ninguém como se comportar" e «Quando o dia amanhecer» é um pleonasmo.

De resto, estas e outras inconclusões merecerão a indevida reflexão em tempo estupidamente inútil, quando acabar este copo com a vodka que ainda não comprei, na próxima semana.

Por outro lado, as eleições regionais dos Açores registaram uma abstenção notória. Em parte porque não me deixaram votar, mas por outro lado, o Bloco de Esquerda elegeu deputados, pela primeira vez na região. Estamos a ficar modernos.

Last but not least, o fato do Quique Flores não dá sorte nem azar ao Benfica, ao contrário do que vem sendo afirmado por muitos feiticeiros de bancada.


07 outubro 2008

06 outubro 2008

Atrofios



Atrofio da semana, só para estudantes de arquitectura... fazer favor de cantar ao som desta faixa.


Projectbusters!

If there's something strange with your architecture
Who you gonna call?
Projectbusters!
If there's something weird and it doesn't endure
Who you gonna call?
Projectbusters!

I ain't afraid of no project
I ain't afraid of no
project

If you're seeing walls running through your head
Who can you call?
Projectbusters!
An invisible line tearing you instead
Oh, who you gonna call?
Projectbusters!

I ain't afraid of no project
I ain't afraid of no project

Who you gonna call?
Projectbusters!
If you're all alone, pick up a phone
And call
Projectbusters!

I ain't afraid of no project
I hear it likes the architects
I ain't afraid of no project
Yeah, yeah, yeah, yeah

Who you gonna call?
Projectbusters!
If you've had a dose of a freaky project
You'd better call
Projectbusters!

Let me tell you something
Bustin' makes me feel good

I ain't afraid of no project
I ain't afraid of no project

Don't get caught alone, oh no
Projectbusters!
When it comes through your door
Unless you just want some more
I think you better call
Projectbusters!
Ow!

Who you gonna call
Projectbusters!


05 outubro 2008

Quem iria reclamar?



A universidade é realmente um tempo de aprendizagem e reunião de conhecimentos muito notável. Ora vejamos as coisas que se aprendem...

História verídica contada por um professor:

Vivia num prédio, cujo vizinho contíguo, todo o santíssimo dia quando chegava a casa, ligava o hi-fi e punha a tocar durante duas horas a música "ó careca tira a boina". E nem as vassouradas na parede resolviam amigavelmente a questão. Que fazer? Nada. Apenas esperar pela vingança.

Tempos antes de se mudar para outro sítio, gravou o choro do seu bebé, e quando saía de casa durante um tempo maior, punha o choro a tocar e a tocar o mais alto possível... quem iria reclamar do choro de um bebé?

28 setembro 2008

Histórias



O meu telemóvel está com a memória cheia e, à custa deste facto científico, vou ter de apagar algumas mensagens. Contudo há uma que gostaria de guardar e por isso vou aqui partilhar convosco. Assim ficará registada para a eternidade... e qiçá para contar aos netos. Aqui vai:



N ha grades. So cerveja individual a 80 cent. K fazemos?

Rotív



Disclaimer: qualquer semelhança com a realidade é puro acaso e o nome dos indivíduos envolvidos foi, naturalmente, alterado.


11 setembro 2008

Retourne à Lisbonne



Não há nada como apanhar uma criança atrás do nosso banco numa viagem de avião. Põem-nos a pensar em coisas que normalmente não lembram a ninguém. Pois ainda me questiono sobre que piada terão os tabuleiros dos Airbus A330. Parecem ser especiais. Será que é por serem desdobráveis? Ou será que é por os podermos colocar ao contrário? Ou será por causa do plástico? Não sei, mas a miúda parecia estar a jogar Playstation com o tabuleiro. E talvez estivesse a jogar «Mortal Kombat», dados os pontapés que se faziam sentir. Talvez.

Como gosto de conversas sobre o Benfica e sobre o Salazar, decidi apanhar um táxi, quando saí do terminal de passageiros. Enquanto se espera pelo taxista, podemos testemunhar a vertente multicultural da cidade. Alguns são pedagógicos e cercam-nos com o fumo do seu cigarro, para nos irmos habituando à concentração de dióxido e monóxido de carbono. Foram muito simpáticos, não acham? Por outro lado, alguns são mais reservados e passam por nós com máscaras tipo cirúrgicas. Não se preocupem, não são tuberculosos, apenas são espertos a filtrar a poluição. É, não é? Don't worry!

Não sei porquê, mas Lisboa traz-me dúvidas.


16 agosto 2008

Quando pensavas telefonar-me?



-- Parecia-me estar a alucinar!... Olá! Que estás aqui a fazer?

-- Olá, cheguei ontem. Voltei.

-- Voltaste? Ah... e quando pensavas telefonar-me?

-- Não pensava. Na verdade não ia telefonar-te.

-- Mas... -- olha para o chão e abana ligeiramente a cabeça -- merda...

-- Sabes, por mais que gostemos de uma pessoa, seja por amizade, por algo mais que isso, e até por algo menos que isso, há certas pessoas que não podemos, que não conseguimos deixar entrar nas nossas vidas. Não posso deixar-te entrar aqui -- aponta para o peito -- apenas posso guardar-te aqui -- apontando o crânio -- irias dar cabo de mim, sem nada fazeres.

-- Comprei um carro. Ainda bem que gastei o dinheiro que andava a poupar para te visitar.


14 agosto 2008

Modernices II - Sobre o optimismo



Quando disse:

As estatísticas são o pior pesadelo de um optimista

estava a pensar em como é difícil ser optimista hoje em dia, pelo menos sem ser ingénuo ou irresponsável. Mas atenção, ser optimista não é o mesmo que ter uma atitude assertiva e/ou positiva perante as coisas e, portanto, uma coisa não implica nem nega a outra.

Ainda que coloquemos de parte a imensa quantidade de notícias negativas com que somos bombardeados numa base quase diária, o mau humor dos outros, o ressonar da companheira, o sermão do padre e uma pisadela num presentinho do bicho do vizinho; ainda que esqueçamos isto tudo, sobram as estatísticas.

E o que são as estatísticas? São as conclusões de estudos que recolhem, analisam e procuram interpretar determinados acontecimentos, através da aplicação de conceitos matemáticos que quantificam variáveis e a sua ocorrência, assim de um modo geral. Os dados são recolhidos do mundo real, imparcial e que se está a borrifar para nós. E as conclusões aplicam-se à realidade e descrevem-na com um elevado grau de exactidão científica, se os procedimentos forem correctos. Deste modo, os resultados descrevem a realidade numa (ou mais) variável(eis) em particular.

Isto dá-nos o conhecimento exacto sobre algo da realidade, seja bom ou mau, positivo ou constrangedor. Então as estatísticas podem esclarecer-nos, transmitir-nos uma noção mais "realista" do que nos rodeia, na medida em que reforça a verosimilhança das impressões que temos da realidade e dos factos que sustentam a nossa visão sobre o mundo. Assim sendo, quem prestar atenção às estatísticas, assumindo a sua natureza neutra, factual e descritiva da realidade, terá a própria realidade à sua frente, em números e na interpretação destes.

Para sermos optimistas, ainda que a realidade que se depare diante de nós seja inequívoca, é necessário abrir mentalmente uma excepção que permita alguma margem para que os resultados esperados desta realidade sejam melhores dos que seriam esperados numa perspectiva realista. As estatísticas vêm esbarrar nesta questão, aniquilando a margem que se poderia conceder, dentro do que o intelecto e raciocínio humano razoável conseguem aceitar, pois há coisas que são em todo o caso impossíveis e ponto final. Nessas situações não há optimismo que se salve.

É por isto que um optimista normalmente não coexiste pacificamente com as estatísticas. Pode até sucumbir a estas.


3% da população, em algum momento das suas vidas, irá desenvolver uma doença rara para a qual não há cura.

14% dos militares em todo o mundo será alvejado nos 7 anos seguintes ao seu alistamento.

29% das mulheres correm o risco de sofrer de osteoporose a partir dos 50 anos.

37% dos homens são daltónicos.

51% dos fumadores desenvolverá alguma espécie de complicação de saúde associada ao consumo de tabaco.

67% dos jovens ocidentais que consomem álcool regularmente, a partir dos 15 anos, terão o triplo das chances de sofrer cirrose mais tarde na vida.

83% dos acidentes rodoviários fatais envolvem o consumo de álcool ou substâncias psicotrópicas.

91% dos trabalhadores na União Europeia correm o risco de ficar desempregados nos próximos 15 anos.

100% dos leitores deste blogue vão morrer um dia, sem dúvida alguma.



Vá, sejamos optimistas, pois só a última estatística aqui é verdadeira. Ha ha ha.

06 agosto 2008

Confesso, eu fui...


...e gostei. Foi no Festival Paredes de Coura que fui forçado a provar Heineken, pois a única alternativa era o álcool etílico da Cruz Vermelha que lá estava. Admito que fui a Paredes... para inveja de muitos amigos meus que agora vão definitavamente deixar de me falar.

dEUS
foto de Miguel Puga (via Blitz)


Mas ah! Correcção: não bebi nenhuma Heineken! E isto explica porque razão a pseudo-cerveja não "batia" porra nenhuma. Segundo o comentário de eddymadcat num fórum de discussão sobre o festival, no sítio da revista Blitz, a cerveja não era Heineken:

" [...] fiquei a saber este ano por alguém que já lá trabalhou - um habitante da terra - que a cerveja que eles vendem não é Heineken mas sim uma marca que a heineken comprou para estes eventos, a cerveja contem uma percentagem de água misturada para fazer as pessoas consumirem mais, [...] "

A ser verdade, isto dá-me vontade de comprar uma caixa de Heineken's e partir todas as garrafas num gesto simbólico, ver a espuma definhar até não mais correr gota de cevada fermentada no interior do esqueleto de vidro da caloteira marca de cerveja. Rebeldia? Não. Nem gostei dos Sex Pistols e não fui eu que passei o concerto dos The Sounds a filmar todos os ângulos possíveis do traseiro da Maja Ivarsson. Também não tinha câmara de filmar comigo, é verdade...

Mando Diao
foto de Miguel Puga (via Blitz)

Com um escândalo destes, a Heineken torna difícil encontrar qualquer outra pouca vergonha no festival, no meu sábio entender. Bem, por um lado foi um pouco estranho ouvir o público gritar pela banda belga dEUS exclamando "Deus!". Nem Deus, nem eles entenderam o que estavam a dizer, porque o nome da banda pronuncia-se da mesma forma que "play us" em inglês. dEUS está escrito em neerlandês e não em português you idiot!

E de entre inúmeros momento memoráveis, queria registar aqui o caricato "incidente" que me pareceu testemunhar durante o concerto dos Sex Pistols. Alguém no público ergueu no ar, acima das cabeças, uma t-shirt dos Bloc Party, cujo vocalista foi alegadamente (para sermos politicamente correctos...) agredido por John Lydon, vocalista dos Sex Pistols. Neste concerto, John ainda viria a exclamar "Respect! This is my stage [apontando para o palco], this is your place [apontando para o público] (...) Respect, always!" depois de atirarem um copo de cerveja a um guitarrista. Irónico e degradante, mas deu espectáculo.

Crowd-surfing no concerto dos Biffy Clyro
foto de Miguel Puga (via Blitz)

05 agosto 2008

Post Sem-Álcool, recomenda-se


Eu fui a banhos, mas este blogue não. Por mais incrível que possa parecer, o Ainda bem que perguntas está sempre em banhos. Férias é com ele. Passam-se semanas sem fazer nada. Mas, lá de vez em quando, vamos beber uns copos. São todos bem-vindos a nos acompanhar na degustação de suminho de cevada. Estejam à vontade, glup!

Por acaso descobri à pouco tempo que há uma cerveja que não "bate nada". Pelo menos não senti nada. Até perguntei se aquela Heineken tinha álcool e obtive a resposta que menos esperava: sim tem álcool (estúpido, até a sem-álcool tem). Tendo em conta os princípios da dedução lógica, chego a três conclusões possíveis. Primeiro: mentiram-me, não tem álcool coisíssima nenhuma. Segundo: sou uma esponja humana. Terceiro: nenhuma das anteriores. Aposto na terceira hipótese, porque é a que me é mais favorável, obviamente. E como o que me é mais favorável é sempre verdade, vou confirmar isso com um copo de absinto. Espero não gostar.

Sejam responsáveis, bebam umas 30 Heineken's em vez de 10 Sagres ou Super Bock's e então depois dêem-me razão.

Crianças, não liguem ao que leram. Leitinho é bem melhor e absinto não é álcool: é veneno.

27 julho 2008

Tomar nota para depois lembrar



ponto 1:
porque assim se permite

A pobreza pode ser muita coisa. Pode ser de espírito, material, etc. Mas independentemente da sua origem, natureza, causa, definição, circunstância e consequência; só existe porque existem assimetrias. As diferenças substanciais são provocadas e nada inocentes, e só tem lugar porque é permitido. A pobreza é uma forma de exclusão social.


ponto 2: o tubarão

Depois da emancipação da Democracia, do abalo do Marxismo e da justificação do Capitalismo, a desigualdade económica tende a acentuar-se e os recursos a concentrarem-se, em vez de se distribuírem. É um facto. Há uma estória sobre o modelo económico dominante:

O Capitalismo é um mar onde os peixes pequenos são devorados por peixes maiores. Depois vêm peixes ainda maiores, que os comem por sua vez. Comem-se uns aos outros até que por fim só resta um, o maior de todos. (1)


Esta absorção sucessiva é uma visão ad infinitum sobre o Capitalismo. Uma analogia em que o polvo chinês do "um país, dois sistemas" surge imprevisível.


ponto 3: boa noite


____________
(1) -- adaptação livre de um comentário sobre o Capitalismo cujo(a) autor(a) desconheço.

02 julho 2008

Bibliografia e afins



Do mesmo modo que os noivos no seu casamento apresentam-se em conformidade com o que é expectável deste ritual de passagem, também se espera que o padre não apareça de biquíni. O que acontece quando o noivo e a noiva surgem, respectivamente, com o seu fato e vestido, adequados à cerimónia, e o padre aparece... mas não se parece com um padre? O que acontece é uma boa questão!

Bom, um trabalho não veste fato, vestido, nem vai à depilação, mas é lhe exigido também uma determinada apresentação, quanto mais é lhe exigido que se vista. Um trabalho sem capa ou sem encadernação, é como um nudista à solta na Baixa pombalina: há quem vire a cara para não ver e há quem olhe e ria, mas é um problema. Um trabalho assim, é, literalmente, um trabalho despido, nu, desinibido e esfarrapado que mete qualquer um em sarilhos.

Um trabalho sem introdução, é como tentar ganhar a simpatia de um desconhecido sem o cumprimentar. Pois até podemos estar num grupo de amigos, mas se do nada começamos a falar com alguém que não nos conhece muito bem, sobre o último jogo de críquete da selecção nacional do Peru, é normal que essa pessoa formule uma opinião muito esclarecida sobre nós. Isto pode ganhar contornos interessantes se essa pessoa não souber o que é o críquete. Se formos vendedores do equipamento desportivo do Peru, isto pode ser problemático.

Falar com um embriagado pode assemelhar-se a um trabalho sem índice. Ainda que o indivíduo saiba quando e onde começou a beber, naquela bebedeira em particular, pode já não saber onde está nem o que está a fazer. Depois quando abre a boca, não se percebe a lógica da ordem pela qual são ditas aquelas postas. E finalmente ainda pode acontecer que o sujeito alcoolicamente vestido não se recorde se já disse ou quando falou sobre alguma coisa. Um trabalho sem índice é assim: tendencialmente confuso.

Um trabalho sem conclusão é como falar com um deputado ou um economista sobre as políticas comerciais da União Europeia em relação às economias emergentes. A conversa até pode ser muito interessante e pôr-nos a pensar sobre o cultivo da cana-do-açúcar no Brasil e a importância que isso tem para a nossa vida e para a sobrevivência do periquito diabético do vizinho, mas quando chega a hora de pagar o café, despedir-mo-nos de suas excelências e dar de frosques, somos atingidos na cabeça por uma questão pertinente: hã? e depois?

Um trabalho sem bibliografia é simplesmente uma piada de mau gosto. As crianças quando dizem piadas assim, ou quando são cruéis e gozam com os cegos, nós sorrimos impotentes e perdoamos (claro que depois damos um valente sermão até elas se arrependerem de ter nascido). Um trabalho sem bibliografia é assim: infantil (e do qual depois nos arrependemos de não ter incluído a mísera bibliografia). Até se compreende um trabalho nu, antipático, desinteressante, confuso e até leviano, mas não se toleram mentirosos. E mentiroso é o trabalho cuja bibliografia é falsa. Como todos os falsos, só se conhecem os que não sabem camuflar o seu descaramento. E como quem não sabe mentir também é pouco original, por coincidência ou não, é genial encontrar bibliografia que consiste em «Google», «Internet» ou «Livros».

Genial.

Voltamos assim à questão inicial. O que é que acontece... o que é que acontece quando o vosso professor vir Bibliografia: Google? O que acontece é uma boa questão!

18 junho 2008

9 euros e 55 cêntimos



Já não era sem tempo. Em jeito de suborno, talvez, atribuíram-me o impressionante 11.º prémio do Euromilhões, do último sorteio. Deve ser para me calar. Mas € 9,55 não me calam por muito tempo... vá lá, até porque o 12.º prémio valia mais! É preciso que se note este último facto: € 10,42. Esta diferença de 87 cêntimos diz muito. Desde puto pequenino que aprendi que o 11.º prémio é maior que o 12.º prémio. Não faz sentido? Go to hell Euromilhões.


P.S.: Curiosamente todos os outros prémios respeitam a ordem natural das coisas. Go to hell Euromilhões.

12 junho 2008

Tudo vale a pena

Alfama, Lisboa

(Nem) todo o graffiti vale a pena se a parede não é pequena. O que diria o Fernando?

09 junho 2008

O Vento

Hoje tremi. Não foi frio, não foi medo. Voltei a tremer. Percorreu-me a angústia de uma espera demasiado expectante, demasiado longa… O meu olhar não alcança a neblina que se levanta além, perto de ti. Os soluços da alma cantam um fado melancólico, mas porquê? Onde estás? Para onde me levas? São saudades. A verdade é que são saudades de quem nunca vi, de quem nunca conheci. E mesmo assim, anseio por ti, por quem nunca virá. Esta calçada não será pisada pelos teus passos, nem o eco do teu riso entoará na minha memória. Voltei a tremer. Acordei e fechei a janela. Que sonhos me trarás amanhã, vento?

A Pergunta

A pergunta errada: Quem disse isso?

A pergunta certa: Porque disse isso?

28 maio 2008

Sem Igual



A Sony lançou uma campanha publicitária fundada no conceito colour like no other, ou seja, cor sem igual, sem comparação. Com este conceito procurou-se evidenciar a marca como uma sem paralelo, tornando-a única. Deste modo, tudo o que vem da marca é expresso de uma forma única, sem paralelo, incentivando também os trabalhadores e colaboradores a pensarem e agirem de uma forma única e sem igual.

Com esta campanha, a agência publicitária Fallon London procurou cativar o mundo imaginário e as paixões do consumidor através da cor e ideal de perfeição. A cor é o elemento visual que, de acordo com Chris Willingham, da Fallon London, é o mais importante para as pessoas quando compram uma televisão.

Partindo da referência da cor e emoções associadas ao conjunto e conceito desta, a campanha acrescenta, às televisões da Sony que procura promover, um toque humanizado. O resultado final prima por uma celebração visual simples e icónica da cor, sem igual, que vale a pena ver. Juan Cabral, director criativo da Fallon, afirma que, a lógica não foi um elemento de grande importância no decorrer do desenvolvimento da campanha. Seguir o coração e o que fazia sentir bem, deixando a criação entregue um pouco ao "sonho" que procuravam, foi muito mais importante.

O mundo colorido foi retratado em três composições diferentes. O stop motion foi uma das técnicas utilizadas, assim como a aplicação de pirotecnia, mas sem fogo de artifício, e de slow motion (vulgo câmara lenta).


Os vídeos dos anúncios estão disponíveis no Youtube. Para visualizar siga os links abaixo:

Paint (making of)

Bouncy Balls (making of)

Play-doh Rabbit (making of)

27 maio 2008

Sobre o Jejum

Quantos ovos consegues comer em jejum?




Apenas um... quando comeres o segundo já não estás em jejum!

Há Vida em... Há o quê?!

Para matar um pouco o jejum, se é que isso é possível, isto é, conceber diferentes graus de jejum...

Enfim, depois de 3 dias a dormir umas espectaculares 4 horas, posso dizer que aqui não se vive. Afinal é preciso muito treino e preparação para bater o recorde de 11 dias consecutivos sem dormir.

Claro que é de recordes que estamos a falar. Nada de projectos e a história dos três porquinhos adaptada à la architecte. Quem sabe, sabe do que estou a falar -- naturalmente.

E não sei quando isto pára!

18 maio 2008

Jejum

Após alguns dias desde o último post, venho aqui acabar com o jejum. Este blogue não morreu. Tratou-se apenas de uma pausa estratégica depois de um longo período de reflexão sobre tangas, como pude verificar pelos comentários de alguns leitores, alguns muito interessantes até.

Com o último post o Mundo descobriu uma nova espécie de citrinos: a tangarina. Agradecimentos ao Vítor pela descoberta.

Bem, queria partilhar convosco uma conclusão a que cheguei recentemente. Ou é azar, ou é muita coincidência, pois pela quadragésima-terceira vez voltei a não ganhar o Euromilhões. Começo a desconfiar...

11 maio 2008

Uma Questão de Tangas

Levar uma tanga -- Esperar por alguém que não vai aparecer.

Contar uma tanga -- Mentir.

Estar de tanga -- Ficar sem dinheiro.


Aceitam-se mais tangas.

10 maio 2008

e Deus existe

A eterna questão "Deus existe?" que vem suscitando acaloradas discussões e debates apaixonados e umas outras tantas cruzadas e jihads ao longo da História pode ter chegado ao fim. Embora todas as religiões com «r» maiúsculo do mundo reclamem para si a posse da verdade única e absoluta, a explicação do sentido da vida e do Universo, e assim o direito de definir o número de mulheres com que um homem pode casar, definir se é permissível comer pastéis de nata, ou se comer marisco é o mesmo que comprar um bilhete para o desterro perpétuo no Inferno; o tenham feito sempre sem justificar cientificamente se Deus existe, agora essa dúvida terminou.

A Igreja de Google provou cientificamente que o seu Deus existe. Esta nova religião apresenta nove provas da divindade do motor de busca que lhe empresta o nome, o Google. Mas não se limitam a acreditar no seu Deus, pois também lhe oferecem devoção com orações e até tem os seus próprios 10 mandamentos.

O Googlismo responde, no seu site, a perguntas tão fundamentais como, se Google é Deus, então quem é Satanás? Mas é interessante ver como provam a divindade do motor de busca:

1. Google sabe tudo, é omnisciente, uma vez que indexa 9,5 biliões de páginas web (muito mais que qualquer outro motor de busca) e filtra todo esse conhecimento com a sua tecnologia patenteada, ordenando a informação de modo a ser acessível e inteligível aos mortais.

2. Google está por todo o lado, é omnipresente, pois virtualmente encontra-se por todo o mundo e em simultâneo, sendo a sua presença uma constante em todas as páginas indexadas, redes sem fios e satélites.

3. Google responde às orações. Qualquer um pode rezar ao Google, pesquisando sobre qualquer problema que lhe atormente, como por exemplo, como perder peso e cremes anti-celulite. Basta perguntar ao Google que este lhe mostrará o caminho.

4. Google é imortal. Não pode ser considerado um ser físico como nós pois os seus algoritmos estão espalhados por inúmeros servidores e caso um seja danificado ou perdido, outro o substituirá imediatamente. Assim o Google pode teoricamente durar para sempre.

5. Google é infinito. Como a Internet pode crescer indefinidamente, Google irá indexar as suas páginas indefinidamente.

6. Google lembra-se de tudo, pois guarda informação sobre as páginas periodicamente nos seus servidores, podendo mesmo imortalizar os pensamentos de qualquer um desde que o coloque na Internet, ficando guardados mesmo depois da morte de quem os cogitou.

7. Google "não pode fazer mal", é omnibenevolente, dada a filosofia da empresa que afirma ser possível gerar dinheiro sem ser malvado.

8. Google é mais solicitado do que todos os outros deuses juntos, sendo evidente que satisfaz os pedidos mais rapidamente e eficientemente que todos os outros deuses.

9. A existência de Google é evidente, uma vez que existem mais provas da sua existência e manifestações da sua existência do que de qualquer outro Deus adorado até aos dias de hoje. Basta visitar www.google.com para confirmar e renovar a sua fé.

07 maio 2008

Ave rara

Asdrubal, voluntário inoportuno dos peditórios da AMI e semelhantes, carteirista por passatempo e detentor de um atestado de estupidez, que lhe foi passado inúmeras vezes não somente pelo pedopsicólogo do manicómio que visita regularmente, como também pelo próprio Asdrubal, nas mais diversas e insólitas ocasiões.

Certo dia, acorda e toma o pequeno-almoço. Faz a barba da suíça ao umbigo e aplica um pouco da eau de cologne que a sua avó lhe oferecera em 1964. Uma fragrância inconfundível. Corta as unhas de dois meses até o sangue jorrar e lhe arder os dedos, sem se esquecer de as pintar com verniz de carpinteiro -- dá a máxima protecção. Penteia as sobrancelhas, erguendo-as e puxando-as até à nuca. Está pronto para sair.

Dirige-se para o Jardim Zoológico.

Com um ar completamente discreto, puxa da sua mala Louis Vuitton uma das carteiras que pediu emprestado no dia anterior e paga o bilhete. Impávido e sereno, percorre a alameda que conduz aos primeiros animais, até acontecer o inesperado. Asdrubal vê e pára.

Asdrubal vê um indivíduo muito mal vestido, de amarelo e vermelho, com boné e roupa da marca Kodak, fraquinha, sem qualidade nem status, e repara na arara que está colocada sobre ombro, cirurgicamente ao lado do pescoço, pronta a desferir um golpe mortal e sanguinário.

Temendo pela vida, Asdrubal corre e ao chegar à rua grita freneticamente:

-- Fujam!!! Estão soltos!!! Eles estão soltos!!!

06 maio 2008

Era tão santa

Era tão santa, tão santa, tão santa, mas tão santa, que São Pedro nem esperou por ela à entrada do Céu para lhe abrir as portas. Ele próprio a foi buscar e ainda chegou antes da hora prevista.

Oh Monday!

Sei que estou atrasado, já é terça-feira. Mas 24 horas de atraso são uma ninharia se comparadas com os 20 e tal anos de atraso que envelhecem o novo aeroporto internacional de Lisboa, e ninguém dá por falta dele, pelo menos até agora.

Por falar em aeroporto, logo aviões, logo voos, logo umas cambalhotas pelas camadas de ar atmosférico de grande altitude, logo necessariamente todo o ar acima da cabeça do avançado inglês Peter Crouch: o blogue sofreu umas pequenas alterações. Digamos que foi uma lufada de ar fresco que me atingiu, mas caso não tenham reparado nas diferenças, insisto veementemente que ignorem na íntegra este post.

02 maio 2008

Até Segunda

Com a quantidade de trabalho que se avizinha, receio ter de me ausentar um pouco. Sim eu sei que já tinha sido avisado. Mas deixo-vos uma preciosidade para este fim-de-semana.

Bem, este blogue dispensa apresentações. Com um estilo muito sui generis, o Bitaites é um blogue simplesmente delicioso. Confirmem.

Bom fim-de-semana.

01 maio 2008

30 abril 2008

As duas torres

Após algum tempo, o moço pergunta à figura envelhecida, que lhe acompanhava ao lado na viagem, o que era o imponente maciço rochoso que se erguia além, no outro lado do vale que mirava. Com o peso de muitas primaveras sobre os ombros e outras guerras, a resposta saiu leve e decidida: "É a igreja de São Vicente de Fora". Enquanto o jovem digeria a informação, olhando as duas torres que era possível ver daquele local, o outro, já menos jovem, voltava-se de novo para as casas típicas, observando, pensativo, o cal que encobre a argamassa de séculos de histórias. Suspira.

"Pois eu vejo aquelas duas torres de minha casa" soltou o rapaz. Dando azo à conversa, é lhe respondido que foi construída durante o reinado dos Filipes de Espanha. Era muito avançada para a época, uma vez que já incorporava um sistema construtivo anti-sísmico.

Sem saber como arrematar a conversa, o jovem disse: "Pois, alguma coisa de jeito tinham de fazer...". A resposta foi espontânea: "Sim, nem tudo podia ser mau!"

Riram-se.

28 abril 2008

O Amor

Não acreditava no amor. Muito menos acreditava no amor à primeira vista. Até que um dia...

Apaixonei-me, à primeira vista... imagine-se! E confirmo, o amor é vermelho por fora, doce por dentro, derrete-se na boca e dá vontade de trincar, comer e ainda podemos ficar a chorar por mais.




falling in love for a Kit Kat machine

27 abril 2008

Chamem uma ambulância

"Na vida, nós temos sempre dois caminhos em qualquer altura. Glup! Podemos sempre escolher um caminho, daqueles dois caminhos. Glup! Mas ambos os caminhos estão correctos. Mas escolhemos apenas um... Glup! Só que um está mais correcto que o outro! Mas só podemos escolher um... Mas estão os dois correctos!... Glup!"

Cinco minutos depois adormeceu sobre o seu próprio leito enquanto o seu fígado (o pouco que lhe restava) fermentou até a cevada não indicar outro caminho senão o do hospital. Perderamos outro grande sábio.

25 abril 2008

Saramago, Liberdade e Jardel

Por falar em Saramago, homem pelo qual não nutro propriamente uma alegre simpatia, unicamente por questões ideológicas, contudo não deixa de merecer o meu profundo e sincero respeito. Mas não duvido que muitos façam a habitual expressão de desagrado ou apreensão quando ouvem seu nome, por puro desconhecimento de causa. É normal manifestarmos aversão ao desconhecido, pelo que sugiro que se informem (e bem) antes de torcerem o nariz e cuspirem sobre a calçada, não apenas em relação ao autor de Memorial do Convento, mas sim em relação a tudo.

Em oposição, é imaturo e inconsequente bater palmas e fazer vénia ao que nos parece bem, julgamos estar ou ser de bem, ainda que convictos lá no âmago da nossa consciência, sem antes estarmos informados (e bem) sobre a verdadeira natureza do que aplaudimos.

Isto tudo para dizer que tropecei numas palavras de Saramago que me deixaram a pensar.

"Da literatura à ecologia, da fuga das galáxias ao efeito de estufa, do tratamento do lixo às congestões do tráfego, tudo se discute neste nosso mundo. Mas o sistema democrático, como se de um dado definitivamente adquirido se tratasse, intocável por natureza até à consumação dos séculos, esse não se discute."

"Se começássemos a dizer claramente que a democracia é uma piada, um engano, uma fachada, uma falácia e uma mentira, talvez pudéssemos nos entender melhor."

Suponho que Saramago tenha uma visão mais obscura sobre o funcionamento da nossa sociedade, ainda que sustentada numa lógica plausível. Parto do princípio que estas questões são incompreensíveis aos leigos, por inércia do quotidiano, por falta de sensibilidade, podendo-lhes soar a teorias da conspiração ou meras fantasias e ficções. Daí que ainda hoje, como há 34 anos atrás em 1974, a educação, a cultura, a informação, sejam pilares fundamentais para a vida, no seu papel como agentes para o esclarecimento e combate à ignorância -- a maior das pobrezas.

Uma introdução à sociologia e antropologia revela de forma mais objectiva os mecanismos e os processos que actuam no funcionamento da sociedade. O indivíduo, localizado e inserido, é alvo de inúmeras forças e conduzido por «instituições». Não deixa de ser participativo e todos desempenham um papel, mas a liberdade é diminuída, até certo ponto. Uma maior consciência destes factos e dinâmicas despertam-nos para a realidade, de uma forma mais esclarecida. Se encetarmos numa análise mais profunda, a democracia, esse sagrado bem que tomamos como adquirido e inalienável, toma contornos menos claros.

Mas, como Jardel disse e muito bem, na sua passagem pelo futebol nacional:

"O difícil, como vocês sabem, não é fácil."

24 abril 2008

Uma questão de linguagem

Muito concentrado, o jovem inocente desenhava a fronha do Fernando Pessoa, com um interesse claramente interessado. Sim, é redundante, mas verdadeiro. Ao riscar (alguns dirão desenhar) o nariz metálico do poeta imortalizado por compor A Mensagem (e outras tantas), no bloco barato que repousava, sobre as suas pernas, com a sua 0.2 preta, é interrompido por um vulto que lhe esconde o objecto do desenho.

Ouve-se algo pouco audível, sim, outra redundância (este post terá várias redundâncias). Era um estranho que lhe dirigia a palavra. Estupefacto, o jovem perguntou muito calmamente ao parvalhão, que raio é que ele queria, afinal o Fernando já devia estar farto de fazer pose para o desenho. Sem perder tempo, o vadio mirabolante esboça um sorriso sarcástico e confirma que o jovem falava português, escrevia português, pensava português e até desenhava um português (falecido, mas também conta). Então pediu-lhe uns «trocos» para comer um bolo. Aborrecido com a falta de delicadeza, o jovem diz que não tem moedas consigo. O apreciador de bolos afasta-se com um sincero agradecimento agradecido mas pouco sincero e dirige-se a uns alemães que se encontravam na mesa ao lado. Estes cospem-lhe uns ich nehme nicht wahr e uns auf wiedersehen, ao que o personagem não oferece resistência e parte.

Fernando Pessoa, exausto, permanece no lugar, gélido como um defunto. Todavia, o rapaz com a caneta fica inquieto. Mais uns traços aqui e ali, um bigode acolá, uma cera nos ouvidos, uns lábios queimados pelo café... e surge outro artista, mas que artista!

Uma prateleira com objectos que se assemelhavam a chocolates da Páscoa, importados da Somália (fazem chocolate lá?), despachados com um ano de atraso por um transitário marroquino, queimados ao Sol de Marrocos. É a visão que surge à frente do jovem, português por sinal. Uma redundância: moedas para comer. Não, moedas para comprar algo para comer, para ser exacto. Como dominava o inglês, o jovem tentou e arriscou -- respondeu à turista:

-- Sorry but I don't understand...

Surpresa!

-- Yes, yes! Nice drawing sir! You see these objects, I do these handcrafts by myself, and... do you have any coin? Anything?

O jovem nunca mais falou inglês em público. A linguagem gestual resolvia o problema, mais rapidamente.

22 abril 2008

Pão


Lisboa, algures entre o Pão e a Côdea -- No miolo de uma questão.


Casa onde não há pão, todos ralham e ninguém tem razão.

21 abril 2008

Exagero

Era uma vez o capuchinho vermelho. Foi a casa da avó. O lobo mau perseguiu-a. O lobo mau devorou o capuchinho e a sua avó. O caçador apanhou o lobo e salvou o capuchinho e a avó. O lobo mau foi desta para melhor.

-- Não! Que facada infligis na língua portuguesa! Intolerável...

-- Ok...

Outrora, em terras longínquas, para além do horizonte que a vista alcança, oculto na fronteira do real com a fantasia, o capuchinho vermelho, dócil e frágil, pisava a terra de um bosque áureo, por entre pedras e erva, caminhando tranquilamente ao som da folhagem que dança ao sabor da brisa fresca que se faz sentir. Fora-lhe pedido que visitasse a avó, uma senhora gentil e amável, sempre com um sorriso disponível, solto espontaneamente, como que um reflexo anatómico involuntário. Assim, e com uma alegria sincera e pequena saudade, o capuchinho partiu para a clareira, em busca do calor dos braços da sua avó, que aguardava impaciente pela sua chegada, preocupada. Pelo caminho, o carnívoro implacável acossou o capuchinho. A sua persistência revelou-se inexorável, tendo tirado partido das sombras e das silhuetas das inocentes árvores, para se aproximar do pobre capuchinho, que ignorava o perigo que espreitava. Tendo conduzido o lobo, sem o saber, o pequeno capuchinho bate à porta, a qual se abre num instante, como relâmpago que se precipita sobre a terra. A visão de um bolo delicioso de chocolate é imediatamente interrompida com o assalto enérgico que o lobo lança sobre a avó e o capuchinho. Não tendo qualquer hipótese, cedem ao ataque, inofensivas e impotentes. Um caçador apercebe-se da situação e intervém repentinamente, desarmando o lobo da sua capacidade ofensiva com uma resposta agressiva mas cirúrgica. Inconsciente, o lobo não reage à operação que o caçador inicia, abrindo-lhe o estômago e soltando, assim, as duas vítimas. Após isto, coloca pesadas rochas na sua barriga e deixa-o à beira de um lago. Ao acordar, transtornado, o lobo procura saciar a sua sede, mas afoga-se ao cair sobre a água, com o peso das pedras.

-- Ah, mas continua péssimo! Faltam parágrafos! Algumas vírgulas! Sintaxe questionável! Falta estrutura formal!... A
cacofonia conceptual de um léxico pseudo-sinestésico roça um funesto atentado à composição inicial!

-- Pois, há de ficar para depois... primeiro vou curar esta gripe!

20 abril 2008

Pausa Dominical

"O quê? Ainda agora começou e já com pausas?! Mau..." acusar-me-ão prontamente da mais tórrida malandrice. Ou talvez não, se compreenderem o seguinte: malandrice é aqui estar. E como sou fiel seguidor de postulados sobre a malandrice, Domingo é dia de descanso.

Deixo-vos aqui o link de um blogue curioso. Se o tempo não permitir, ou as crianças preferirem ficar em casa a jogar Playstation ao invés de reforçar ao Sol a concentração de vitamina D, podem sempre divertir-se com os fantásticos erros de designers e editores de imagem geniais, denunciados no PhotoshopDisasters. É também uma boa desculpa para interromper o trabalho, quer seja limpar a cozinha, quer seja elaborar o plano de emergência de um centro comercial -- é sempre uma boa desculpa. Deleitem-se.

19 abril 2008

O velho do Restelo

Pousou o copo. Respirou fundo e, com umas bochechas avermelhadas, desabafou. Foi o empregado do café que levou com o latim amordaçado daquele revoltado. O Governo está mal, o país está mal, está tudo mal, como nunca esteve, pior é impossível. O que dizia o homem? Nada de novo, pois o Governo nunca age bem. "O Governo está a fazer mal! A fazer leis que são proibidas!". Volta a elevar o copo, entorna e pousa-o. Afasta a garrafa um pouco.

Olhando para o tecto, ou para o relógio, numa dialéctica ansiosa, o empregado respondia com maior desabafo: "O que é que este Governo está a fazer? Está a fazer o que era preciso ter feito à trinta anos!". Trinta anos, mas daqueles "grandes", com 900 anos de comprimento, talvez.

Mas o freguês não se dá por vencido e atira novamente: "Nunca a mocidade andou assim!!! A chamar por "tu" aos pais... A sair de casa sem dizer nada! A aparecer por aí de qualquer maneira...". Rindo-se, o empregado acha que o problema, o problema maior, não é esse.

Com falta de assunto, provavelmente, o intrépido teceu insinuações sobre a orientação sexual do primeiro-ministro, mas foi calado de imediato pelo empregado, dizendo que ele nada tinha haver com isso.

Conclusão: o velho bebia Super Bock.

18 abril 2008

#1

Um dia, quando abrir um iogurte light, despachar um peixe fedorento para o congelador do frigorífico (por uma razão artística «qualquer») e chover a cântaros em Lisboa (para gáudio dos meteorologistas), vou criar um blogue, com um título peculiar, mas improvável.

Hoje é o dia.

À parte a euforia dos saquinhos de açúcar poéticos da Nicola, fica uma grande dor de costas que me vai catapultar daqui para fora. Ah, fui avisado de que não teria tempo para aqui regressar, mas pelo menos a primeira posta já cá canta. Tenho dito.