16 agosto 2008

Quando pensavas telefonar-me?



-- Parecia-me estar a alucinar!... Olá! Que estás aqui a fazer?

-- Olá, cheguei ontem. Voltei.

-- Voltaste? Ah... e quando pensavas telefonar-me?

-- Não pensava. Na verdade não ia telefonar-te.

-- Mas... -- olha para o chão e abana ligeiramente a cabeça -- merda...

-- Sabes, por mais que gostemos de uma pessoa, seja por amizade, por algo mais que isso, e até por algo menos que isso, há certas pessoas que não podemos, que não conseguimos deixar entrar nas nossas vidas. Não posso deixar-te entrar aqui -- aponta para o peito -- apenas posso guardar-te aqui -- apontando o crânio -- irias dar cabo de mim, sem nada fazeres.

-- Comprei um carro. Ainda bem que gastei o dinheiro que andava a poupar para te visitar.


14 agosto 2008

Modernices II - Sobre o optimismo



Quando disse:

As estatísticas são o pior pesadelo de um optimista

estava a pensar em como é difícil ser optimista hoje em dia, pelo menos sem ser ingénuo ou irresponsável. Mas atenção, ser optimista não é o mesmo que ter uma atitude assertiva e/ou positiva perante as coisas e, portanto, uma coisa não implica nem nega a outra.

Ainda que coloquemos de parte a imensa quantidade de notícias negativas com que somos bombardeados numa base quase diária, o mau humor dos outros, o ressonar da companheira, o sermão do padre e uma pisadela num presentinho do bicho do vizinho; ainda que esqueçamos isto tudo, sobram as estatísticas.

E o que são as estatísticas? São as conclusões de estudos que recolhem, analisam e procuram interpretar determinados acontecimentos, através da aplicação de conceitos matemáticos que quantificam variáveis e a sua ocorrência, assim de um modo geral. Os dados são recolhidos do mundo real, imparcial e que se está a borrifar para nós. E as conclusões aplicam-se à realidade e descrevem-na com um elevado grau de exactidão científica, se os procedimentos forem correctos. Deste modo, os resultados descrevem a realidade numa (ou mais) variável(eis) em particular.

Isto dá-nos o conhecimento exacto sobre algo da realidade, seja bom ou mau, positivo ou constrangedor. Então as estatísticas podem esclarecer-nos, transmitir-nos uma noção mais "realista" do que nos rodeia, na medida em que reforça a verosimilhança das impressões que temos da realidade e dos factos que sustentam a nossa visão sobre o mundo. Assim sendo, quem prestar atenção às estatísticas, assumindo a sua natureza neutra, factual e descritiva da realidade, terá a própria realidade à sua frente, em números e na interpretação destes.

Para sermos optimistas, ainda que a realidade que se depare diante de nós seja inequívoca, é necessário abrir mentalmente uma excepção que permita alguma margem para que os resultados esperados desta realidade sejam melhores dos que seriam esperados numa perspectiva realista. As estatísticas vêm esbarrar nesta questão, aniquilando a margem que se poderia conceder, dentro do que o intelecto e raciocínio humano razoável conseguem aceitar, pois há coisas que são em todo o caso impossíveis e ponto final. Nessas situações não há optimismo que se salve.

É por isto que um optimista normalmente não coexiste pacificamente com as estatísticas. Pode até sucumbir a estas.


3% da população, em algum momento das suas vidas, irá desenvolver uma doença rara para a qual não há cura.

14% dos militares em todo o mundo será alvejado nos 7 anos seguintes ao seu alistamento.

29% das mulheres correm o risco de sofrer de osteoporose a partir dos 50 anos.

37% dos homens são daltónicos.

51% dos fumadores desenvolverá alguma espécie de complicação de saúde associada ao consumo de tabaco.

67% dos jovens ocidentais que consomem álcool regularmente, a partir dos 15 anos, terão o triplo das chances de sofrer cirrose mais tarde na vida.

83% dos acidentes rodoviários fatais envolvem o consumo de álcool ou substâncias psicotrópicas.

91% dos trabalhadores na União Europeia correm o risco de ficar desempregados nos próximos 15 anos.

100% dos leitores deste blogue vão morrer um dia, sem dúvida alguma.



Vá, sejamos optimistas, pois só a última estatística aqui é verdadeira. Ha ha ha.

06 agosto 2008

Confesso, eu fui...


...e gostei. Foi no Festival Paredes de Coura que fui forçado a provar Heineken, pois a única alternativa era o álcool etílico da Cruz Vermelha que lá estava. Admito que fui a Paredes... para inveja de muitos amigos meus que agora vão definitavamente deixar de me falar.

dEUS
foto de Miguel Puga (via Blitz)


Mas ah! Correcção: não bebi nenhuma Heineken! E isto explica porque razão a pseudo-cerveja não "batia" porra nenhuma. Segundo o comentário de eddymadcat num fórum de discussão sobre o festival, no sítio da revista Blitz, a cerveja não era Heineken:

" [...] fiquei a saber este ano por alguém que já lá trabalhou - um habitante da terra - que a cerveja que eles vendem não é Heineken mas sim uma marca que a heineken comprou para estes eventos, a cerveja contem uma percentagem de água misturada para fazer as pessoas consumirem mais, [...] "

A ser verdade, isto dá-me vontade de comprar uma caixa de Heineken's e partir todas as garrafas num gesto simbólico, ver a espuma definhar até não mais correr gota de cevada fermentada no interior do esqueleto de vidro da caloteira marca de cerveja. Rebeldia? Não. Nem gostei dos Sex Pistols e não fui eu que passei o concerto dos The Sounds a filmar todos os ângulos possíveis do traseiro da Maja Ivarsson. Também não tinha câmara de filmar comigo, é verdade...

Mando Diao
foto de Miguel Puga (via Blitz)

Com um escândalo destes, a Heineken torna difícil encontrar qualquer outra pouca vergonha no festival, no meu sábio entender. Bem, por um lado foi um pouco estranho ouvir o público gritar pela banda belga dEUS exclamando "Deus!". Nem Deus, nem eles entenderam o que estavam a dizer, porque o nome da banda pronuncia-se da mesma forma que "play us" em inglês. dEUS está escrito em neerlandês e não em português you idiot!

E de entre inúmeros momento memoráveis, queria registar aqui o caricato "incidente" que me pareceu testemunhar durante o concerto dos Sex Pistols. Alguém no público ergueu no ar, acima das cabeças, uma t-shirt dos Bloc Party, cujo vocalista foi alegadamente (para sermos politicamente correctos...) agredido por John Lydon, vocalista dos Sex Pistols. Neste concerto, John ainda viria a exclamar "Respect! This is my stage [apontando para o palco], this is your place [apontando para o público] (...) Respect, always!" depois de atirarem um copo de cerveja a um guitarrista. Irónico e degradante, mas deu espectáculo.

Crowd-surfing no concerto dos Biffy Clyro
foto de Miguel Puga (via Blitz)

05 agosto 2008

Post Sem-Álcool, recomenda-se


Eu fui a banhos, mas este blogue não. Por mais incrível que possa parecer, o Ainda bem que perguntas está sempre em banhos. Férias é com ele. Passam-se semanas sem fazer nada. Mas, lá de vez em quando, vamos beber uns copos. São todos bem-vindos a nos acompanhar na degustação de suminho de cevada. Estejam à vontade, glup!

Por acaso descobri à pouco tempo que há uma cerveja que não "bate nada". Pelo menos não senti nada. Até perguntei se aquela Heineken tinha álcool e obtive a resposta que menos esperava: sim tem álcool (estúpido, até a sem-álcool tem). Tendo em conta os princípios da dedução lógica, chego a três conclusões possíveis. Primeiro: mentiram-me, não tem álcool coisíssima nenhuma. Segundo: sou uma esponja humana. Terceiro: nenhuma das anteriores. Aposto na terceira hipótese, porque é a que me é mais favorável, obviamente. E como o que me é mais favorável é sempre verdade, vou confirmar isso com um copo de absinto. Espero não gostar.

Sejam responsáveis, bebam umas 30 Heineken's em vez de 10 Sagres ou Super Bock's e então depois dêem-me razão.

Crianças, não liguem ao que leram. Leitinho é bem melhor e absinto não é álcool: é veneno.