14 agosto 2008

Modernices II - Sobre o optimismo



Quando disse:

As estatísticas são o pior pesadelo de um optimista

estava a pensar em como é difícil ser optimista hoje em dia, pelo menos sem ser ingénuo ou irresponsável. Mas atenção, ser optimista não é o mesmo que ter uma atitude assertiva e/ou positiva perante as coisas e, portanto, uma coisa não implica nem nega a outra.

Ainda que coloquemos de parte a imensa quantidade de notícias negativas com que somos bombardeados numa base quase diária, o mau humor dos outros, o ressonar da companheira, o sermão do padre e uma pisadela num presentinho do bicho do vizinho; ainda que esqueçamos isto tudo, sobram as estatísticas.

E o que são as estatísticas? São as conclusões de estudos que recolhem, analisam e procuram interpretar determinados acontecimentos, através da aplicação de conceitos matemáticos que quantificam variáveis e a sua ocorrência, assim de um modo geral. Os dados são recolhidos do mundo real, imparcial e que se está a borrifar para nós. E as conclusões aplicam-se à realidade e descrevem-na com um elevado grau de exactidão científica, se os procedimentos forem correctos. Deste modo, os resultados descrevem a realidade numa (ou mais) variável(eis) em particular.

Isto dá-nos o conhecimento exacto sobre algo da realidade, seja bom ou mau, positivo ou constrangedor. Então as estatísticas podem esclarecer-nos, transmitir-nos uma noção mais "realista" do que nos rodeia, na medida em que reforça a verosimilhança das impressões que temos da realidade e dos factos que sustentam a nossa visão sobre o mundo. Assim sendo, quem prestar atenção às estatísticas, assumindo a sua natureza neutra, factual e descritiva da realidade, terá a própria realidade à sua frente, em números e na interpretação destes.

Para sermos optimistas, ainda que a realidade que se depare diante de nós seja inequívoca, é necessário abrir mentalmente uma excepção que permita alguma margem para que os resultados esperados desta realidade sejam melhores dos que seriam esperados numa perspectiva realista. As estatísticas vêm esbarrar nesta questão, aniquilando a margem que se poderia conceder, dentro do que o intelecto e raciocínio humano razoável conseguem aceitar, pois há coisas que são em todo o caso impossíveis e ponto final. Nessas situações não há optimismo que se salve.

É por isto que um optimista normalmente não coexiste pacificamente com as estatísticas. Pode até sucumbir a estas.


3% da população, em algum momento das suas vidas, irá desenvolver uma doença rara para a qual não há cura.

14% dos militares em todo o mundo será alvejado nos 7 anos seguintes ao seu alistamento.

29% das mulheres correm o risco de sofrer de osteoporose a partir dos 50 anos.

37% dos homens são daltónicos.

51% dos fumadores desenvolverá alguma espécie de complicação de saúde associada ao consumo de tabaco.

67% dos jovens ocidentais que consomem álcool regularmente, a partir dos 15 anos, terão o triplo das chances de sofrer cirrose mais tarde na vida.

83% dos acidentes rodoviários fatais envolvem o consumo de álcool ou substâncias psicotrópicas.

91% dos trabalhadores na União Europeia correm o risco de ficar desempregados nos próximos 15 anos.

100% dos leitores deste blogue vão morrer um dia, sem dúvida alguma.



Vá, sejamos optimistas, pois só a última estatística aqui é verdadeira. Ha ha ha.

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