02 julho 2008

Bibliografia e afins



Do mesmo modo que os noivos no seu casamento apresentam-se em conformidade com o que é expectável deste ritual de passagem, também se espera que o padre não apareça de biquíni. O que acontece quando o noivo e a noiva surgem, respectivamente, com o seu fato e vestido, adequados à cerimónia, e o padre aparece... mas não se parece com um padre? O que acontece é uma boa questão!

Bom, um trabalho não veste fato, vestido, nem vai à depilação, mas é lhe exigido também uma determinada apresentação, quanto mais é lhe exigido que se vista. Um trabalho sem capa ou sem encadernação, é como um nudista à solta na Baixa pombalina: há quem vire a cara para não ver e há quem olhe e ria, mas é um problema. Um trabalho assim, é, literalmente, um trabalho despido, nu, desinibido e esfarrapado que mete qualquer um em sarilhos.

Um trabalho sem introdução, é como tentar ganhar a simpatia de um desconhecido sem o cumprimentar. Pois até podemos estar num grupo de amigos, mas se do nada começamos a falar com alguém que não nos conhece muito bem, sobre o último jogo de críquete da selecção nacional do Peru, é normal que essa pessoa formule uma opinião muito esclarecida sobre nós. Isto pode ganhar contornos interessantes se essa pessoa não souber o que é o críquete. Se formos vendedores do equipamento desportivo do Peru, isto pode ser problemático.

Falar com um embriagado pode assemelhar-se a um trabalho sem índice. Ainda que o indivíduo saiba quando e onde começou a beber, naquela bebedeira em particular, pode já não saber onde está nem o que está a fazer. Depois quando abre a boca, não se percebe a lógica da ordem pela qual são ditas aquelas postas. E finalmente ainda pode acontecer que o sujeito alcoolicamente vestido não se recorde se já disse ou quando falou sobre alguma coisa. Um trabalho sem índice é assim: tendencialmente confuso.

Um trabalho sem conclusão é como falar com um deputado ou um economista sobre as políticas comerciais da União Europeia em relação às economias emergentes. A conversa até pode ser muito interessante e pôr-nos a pensar sobre o cultivo da cana-do-açúcar no Brasil e a importância que isso tem para a nossa vida e para a sobrevivência do periquito diabético do vizinho, mas quando chega a hora de pagar o café, despedir-mo-nos de suas excelências e dar de frosques, somos atingidos na cabeça por uma questão pertinente: hã? e depois?

Um trabalho sem bibliografia é simplesmente uma piada de mau gosto. As crianças quando dizem piadas assim, ou quando são cruéis e gozam com os cegos, nós sorrimos impotentes e perdoamos (claro que depois damos um valente sermão até elas se arrependerem de ter nascido). Um trabalho sem bibliografia é assim: infantil (e do qual depois nos arrependemos de não ter incluído a mísera bibliografia). Até se compreende um trabalho nu, antipático, desinteressante, confuso e até leviano, mas não se toleram mentirosos. E mentiroso é o trabalho cuja bibliografia é falsa. Como todos os falsos, só se conhecem os que não sabem camuflar o seu descaramento. E como quem não sabe mentir também é pouco original, por coincidência ou não, é genial encontrar bibliografia que consiste em «Google», «Internet» ou «Livros».

Genial.

Voltamos assim à questão inicial. O que é que acontece... o que é que acontece quando o vosso professor vir Bibliografia: Google? O que acontece é uma boa questão!

2 comentários:

Mário disse...

genial mesmo...
mas olha que ja vi uns quantos profs a quem lhes apareceu essa dita bibliografia google XD

André disse...

Pois a nossa professora de História da Arte já sofreu um bocado com isto!