05 fevereiro 2009

Trânsito e, talvez, metafísica



Desde a insólita operação stop a meio da ponte, em que a agente da polícia o mandou encostar à berma da rotunda, que Desidério não dormia, obcecado com o brilho dos olhos da senhora de óculos escuros. Nessa noite mandaram-no parar porque o travão não dava sinal luminoso. Depois de descarregar a frustração na árvore que se encontrava junto à berma, enfrentando-a de frente, lá pagou a multa, mas memorizou o nome gravado no crachá.

Psicopata de profissão, alfarrabista nos tempos livres, o marsupial desajeitado procurou pelo nome. Afinal ela era linda. A caneta. E a assinatura, vá, também, com um registo que deixaria qualquer dactilógrafo em êxtase e com espasmos musculares na cartilagem da extremidade interna do dedo mindinho, atente-se. Encontrou-a.

Mas não podia entrar na esquadra. Era tímido apesar de tudo, e estava fulo com o telefonista ciumento que não encaminhava os telefonemas. Então esperou. Até que ela sai e dirige-se para o cruzamento, para gerir o trânsito. Não se contendo, o lúcido instinto enterra o pé direito canhoto no acelerador e só o pára quando... pronto, já está com ela.

Morreu ali mesmo. Quem?

Ai, que o crachá não era o mesmo.


2 comentários:

Mário disse...

uma historia um pc estranha e morbida nao??XD

André disse...

Mário, não duvido da estranheza, mas mórbida? Depende do ponto de vista, que... ai, não é o mesmo também! ;)

Mas pronto, não contesto a interpretação sanguinária, só a considero demasiado... "anatómicamente forense" e imediata, dentro da rapidez com que se desenrola o absurdo. Prefiro um copo de sangria, sabes?